INSIDE THEY ARE BROKEN (2012)
Peju Alatise
Em The Return of the Real, Hal Foster analisa a evolução da arte contemporânea, identificando um movimento que vai do textualismo dos anos 1970, passando pelo domínio do simulacro nos anos 1980, até um “retorno ao real” nos anos 1990. Esse retorno não implica uma simples valorização da realidade objetiva, mas um aprofundamento na materialidade dos corpos, nas dinâmicas sociais e, sobretudo, na noção lacaniana do Real — aquilo que escapa à simbolização, que resiste à linguagem e se manifesta como uma ruptura na experiência subjetiva.
Ao explorar o Real, a arte contemporânea desafia as estruturas simbólicas e imaginárias convencionais, criando espaços onde o espectador é confrontado com elementos que normalmente são reprimidos ou inarticuláveis. Esse deslocamento provoca uma experiência de estranhamento, obrigando uma reavaliação da imagem e da própria posição do observador perante a obra.
A relação entre arte e Real manifesta-se, muitas vezes, através da inserção de elementos que interrompem a familiaridade dos espaços ou desafiam a previsibilidade narrativa da imagem. Esse procedimento reforça a ideia de interstício — um espaço entre significados, onde a criação e a interpretação se tornam instáveis. Assim, a tensão entre presença e ausência, sentido e vazio, passa a ser um dos motores da produção artística que se insere nesse contexto.
Além disso, Foster sugere que esse retorno ao real não se trata de um resgate nostálgico do passado, mas de uma resposta à artificialidade e ao excesso de mediação visual que caracterizaram a cultura das décadas anteriores (1996, 130). A arte, ao inserir o Real como elemento disruptivo, busca expor a fragilidade dos sistemas simbólicos e o desconforto que emerge da impossibilidade de totalizar a experiência.
Dessa forma, tanto The Return of the Real quanto as práticas artísticas que ele analisa revelam um interesse pelo que não pode ser completamente assimilado, explorando o limite entre a representação e aquilo que sempre escapa à tentativa de captura. O Real não é confortável, e a criação artística, quando engajada nesse território, reforça a sua potência enquanto experiência de ruptura.
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